Deus, fonte do conhecimento verdadeiro
AACC MS 2024
Cidadania
Sábado, 22 de Novembro de 2025    08h34

Deus, fonte do conhecimento verdadeiro

Como a revelação divina transforma nossa visão sobre nós mesmos e sobre o mundo

Fonte: Hermisten Maia
Foto: Voltemos ao Evangelho

 

É o fato de o Deus Triúno e Tripessoal ser onisciente e de todo conhecimento partir dele que podemos conhecer.

Conhecer a Deus em sua soberania e beleza, portanto, é um dom da graça do soberano Deus. Este conhecimento, por sua vez, nos liberta para que possamos conhecer genuinamente a nós mesmos e as demais coisas da realidade, possibilitando-nos ter uma dimensão adequada de todas as coisas com as quais nos deparamos.

A Teologia como Serviço ao Senhor

Em outras palavras, citando Frame: “É um conhecimento acerca de Deus como Senhor, e um conhecimento que está sujeito a Deus como Senhor”. A teologia é o trabalho do servo totalmente comprometido em ouvir e ensinar o que o seu Senhor revelou, rogando a Deus que lhe dê compreensão adequada e que transmita com fidelidade – sem nada acrescentar ou omitir – o que nos foi dado conhecer.

A Realidade à Luz do Conhecimento de Deus

Somente a partir de um genuíno conhecimento de Deus poderemos nos conhecer verdadeiramente, bem como toda a realidade. O conhecimento de Deus possibilita-nos enxergar a realidade em suas múltiplas facetas, com os seus valores próprios conferidos pelo próprio Deus que a sustenta. A verdade nos liberta (Jo 8.32) de uma visão puramente terrena ou mesmo metafísica, para que possamos visualizar cada aspecto da realidade dentro de um referencial fornecido pelo próprio Deus que a criou.

As Escrituras não tratam a Deus panteisticamente nem deisticamente, como normalmente ocorre com o pensamento pagão ao longo da história. Antes, nos mostram tal qual Ele se revela.

Conforme vimos, essa revelação ressoa em nós porque Deus a comunica por meio de categorias acessíveis à nossa mente – tal como Ele a criou – acomodando-se, assim, à nossa capacidade de compreensão. 

A Imagem de Deus e o Senso do Divino

Apesar do pecado, permanecemos como imagem e semelhança de Deus em nosso aspecto metafísico, trazendo em nós o senso do divino e revelando-nos, por isso, incuravelmente religiosos. Além disso, é pelo seu Espírito que somos iluminados, capacitados a alcançar uma compreensão verdadeira das Escrituras.

Bavinck sintetiza:

Todos os povos ou puxam Deus panteisticamente para baixo, na direção daquilo que é criado, ou o elevam deisticamente, colocando-o infinitamente acima da criatura. Em nenhum dos casos se chega a uma verdadeira comunhão, a uma aliança, a uma religião genuína. No entanto, a Escritura insiste em ambos: Deus é infinitamente grande e condescendentemente bom; Ele é soberano, mas também é Pai; Ele é Criador, mas também é Protótipo. Em uma palavra, Ele é o Deus da aliança.

A Epistemologia Bíblica e a Criação

As Escrituras não se ocupam em discutir as “provas da existência de Deus”; antes, apresentam-nos um Deus que fala e age. A Bíblia parte do pressuposto teórico-prático da existência de Deus: Ele é o Senhor, um ser necessário e concreto. Em vez de argumentar em favor de sua existência, as Escrituras começam com a afirmação de que Deus criou todas as coisas. Há algo mais prático do que isso?

Grande parte do agir divino se dá por meio de sua Palavra, que cria, recria, sustenta e transforma (Gn 1.1; 2.4). Antes de abordar a matéria, as Escrituras iniciam com o Deus que cria, para então narrar o que Ele realizou conforme nos foi dado conhecer.

As primeiras palavras da Bíblia estabelecem o fundamento de toda a nossa compreensão teológica. O primeiro versículo de Gênesis contém uma proposição ontológica e epistemológica profunda. Negar essa declaração revelacional – “No princípio, Deus” – conduz ao colapso da epistemologia, abrindo espaço para a construção de um deus esvaziado de poder e glória, fruto da imaginação humana, o que pode pavimentar o caminho para o ateísmo absoluto.

A Presença de Deus na Criação

A Palavra de Deus nos ensina que Ele não está limitado pelo universo, pois este é obra de suas mãos. Deus é infinito; portanto, é imenso e eterno, transcendendo perfeitamente todas as limitações espaciais e temporais – características da criatura, não do Criador. Ainda assim, Deus está presente em todas as suas criaturas e em todos os lugares.

Não queremos com isso afirmar que Deus esteja presente da mesma forma em todas as suas criaturas. Sua presença se manifesta conforme a natureza de cada ser. Assim, podemos dizer que Deus habita de um modo no ser humano, de outro no mundo orgânico, e de maneira distinta no mundo inorgânico. O modo como Deus está em nós, seu povo, difere da forma como habita os incrédulos. Ele age soberanamente em uma variedade infinita de maneiras.

Por meio do profeta Isaías, Deus declara:

Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos. (Is 57.15).

A Palavra do Senhor, além de revelar aspectos sublimes de sua natureza, nos dá a conhecer elementos de seu propósito eterno − que inclui o amor que antecede nossa criação, o cuidado contínuo ao nos instruir sobre como viver, a correção quando nos desviamos, e a garantia final da salvação futura, já assegurada.

Essa revelação bíblica contrasta profundamente com as concepções da filosofia antiga. A diferença ontológica reside no fato de que Deus se distingue da matéria criada. Somente Ele é necessário, essencial, eterno e absoluto; nada lhe falta. Toda a criação, por outro lado, é contingente, não se sustenta por si mesma, e depende essencialmente de Deus para existir.

Há também uma diferença epistemológica. Os escritores bíblicos não se preocupam em explicar, argumentar ou provar a existência de Deus. Eles simplesmente creem que Ele existe, é autônomo e autopoderoso. Todo conhecimento verdadeiro provém desse Deus que se revela.

Transcendência e imanência

A fé cristã afirma simultaneamente a transcendência e a imanência de Deus. Ao declarar sua transcendência, rejeitamos o panteísmo; ao afirmar sua imanência, partimos da realidade da Revelação divina, negando o deísmo. A criação de todas as coisas decorre da vontade livre e soberana de Deus − inacessível à compreensão humana − e sua manutenção se dá por meio desse Deus pessoal, que se revela e se relaciona conosco.

A Bíblia ensina claramente essas duas verdades:

  • O Céu e a Terra não podem conter Deus (1Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48-49).
  • Contudo, Ele sustenta os Céus e a Terra, estando especialmente próximo daqueles que o buscam com sinceridade (Sl 139.7-10; Is 57.15; Jr 23.23-24; At 17.27-28).
  • Calvino (1509-1564) exulta: “A glória de nossa fé é que Deus, o Criador do mundo, não descarta nem abandona a ordem que Ele mesmo no princípio estabelecera”.

    Foi com esse Deus que nossos primeiros pais se relacionavam. No entanto, escolheram rejeitá-lo, movidos pela pretensão de serem iguais a Ele.

    Algumas considerações

    Cremos que todo conhecimento verdadeiro começa em Deus. Ao conhecê-lo como soberano e belo, somos libertos para enxergar a nós mesmos e a realidade com clareza. Esse conhecimento não é apenas informativo − é transformador.

    A Bíblia nos apresenta um Deus que fala e age, não um conceito filosófico. Rejeitamos o panteísmo, que confunde Deus com a criação, e o deísmo, que o afasta dela. Afirmamos que Deus é transcendente e imanente: Ele está acima de tudo, mas também próximo dos que o buscam com sinceridade.

    Como povo de Deus, vivemos essa verdade:

  • Pregamos confiando na suficiência da Palavra.
  • Discipulamos com esperança, sabendo que o Espírito ilumina corações e mentes.
  • Servimos com humildade: Reconhecendo que somos apenas servos transmitindo o que nos foi confiado.
  • Adoramos com reverência e intimidade, reconhecendo Deus como Criador e Pai. Mantendo o temor diante da transcendência de Deus e a confiança na sua proximidade.
  • Fomos criados para conhecer a majestade de Deus, estimá-la acima de todas as coisas e honrá-lo com temor, amor e reverência. Essa é nossa confissão, nossa esperança e nossa prática.

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